Artigo convidado: Hipocrisia Crônica

Seria realmente cômico, se não fosse trágico, o que o circo de Brasília tem apresentado, cada vez com maior eficiência e explicitação, ao seu (des)respeitado público. Travam disputas polêmicas nem sempre do interesse do povo, mas com certeza do interesse próprio bem como do interesse daqueles que os abastece com recursos que precisam ser lavados.

Mas o que nos deixa perplexos e inconformados, é que a grande maioria dos nossos congressistas, age como se fossem limpos, imaculados. Cada um julga seu par/adversário um corrupto, quando sabemos que os confiáveis naquele picadeiro podem ser contados nos dedos de uma mão.

O que ocorre na verdade, é que protegidos pelo manto sagrado da imunidade parlamentar, nossos representantes abusam de seus poderes e defendem seus interesses particulares sem o menor escrúpulo. Dão sempre a impressão de que estão lutando pelo bem comum, já nem se importando com o fato de parecer ser, pois já se acostumaram com o cinismo. A hipocrisia, que, em se tornando crônica, criou uma carcaça tal que os deixam inatingíveis pelas críticas. Sejam da mídia em geral, sejam de seus eleitores.

Ao chegarmos nesse estado de coisas, deve-se questionar a democracia-governo do povo. Como o nosso povo está gerindo seu destino? A vontade da maioria da população está sendo respeitada? Ou a de um grupo seleto que finge legislar para todos. E o que mais nos deixa indignados é que nessa comédia do poder, trocam-se os personagens, mas o cenário e o enredo continuam os mesmos.

Penso que muita coisa em nossa democracia precisa ser repensada. Desde o sistema político eletivo até a distribuição de renda passando pela equivalência dos três poderes. Pinçando apenas um exemplo, pergunto: Por que a existência de um Ministério da Pesca, que gasta 575 mil reais por mês, totalizando 7 milhões de reais por ano, em aluguel de um prédio espelhado de 14 andares que acomodam 374 funcionários, se nos últimos oito anos a produção de pescado ficou estacionada em 990 toneladas? Essas são as informações que nos chegam, que em sendo verídicas, é deveras lamentável. O que se espera da democracia é uma genuína representatividade popular e não a centralização e manipulação do poder por poucos.

Quantos anos mais, quantas eleições devem acontecer para que nosso quadro político-institucional amadureça e corresponda a nossas expectativas? Até quando nossos políticos vão menosprezar nossa inteligência?
Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?…
José Moreira Filho (www.josemoreirafilho.com.br)

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